[DEIXAI TODA A ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS!]
Dante Alighieri, Divina Comédia

quinta-feira, abril 15, 2010

Para ti Manuela


Como Queiras, Amor...

 
Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.
As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de malcontente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.
Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.
Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.
 

Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras.


Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Bom dia. Gostei muito desta poisia...........tenho muita admiração por si e também por a Manuela, é uma grande SENHORA !!!!!!!!

Um abraço

Margarida