[DEIXAI TODA A ESPERANÇA, Ó VÓS QUE ENTRAIS!]
Dante Alighieri, Divina Comédia

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Facebook

Eu não gostava destas coisas ditas de "redes sociais". Desgosta-me a exposição.
O meu limite era o MSN, se MSN pode ser considerado de "rede social". Não sei se pode. Talvez.
Foi um amigo aqui da lista que me despertou para esta coisa do "facebook".
Há dias "viajando na net" até Malange, Angola, descobri um amigo de infância, alguém com quem partilhei brincadeiras na povoação do Cambo, do Sunginge, e na cidade de Malange.
O Lino Marmeleiro.

Os nossos Pais cultivavam algodão na Baixa do Cassange, em campos imensos, a perder de vista de terra preta barrenta quando lavrados, de um imenso verde salpicado de lilás, amarelo e branco no tempo da floração, e completamente brancos no tempo da colheita. Os meus Pais comparavam a imagem à neve da “santa terrinha”, da qual diga-se não tinham saudades nenhumas.

Creio que conduzi pela primeira vez um tractor na fazenda do meu Pai aos 9 anos inspirado no exemplo do Lino, este mais velho já conduzia na perfeição, ( parti o primeiro Massey Fergusson aos 10 na Cotonang!!! ). Para poder estudar no primeiro ciclo fui para Malange, para a casa da Dª Gracinda, a Mãe do Lino.

Lembro-me das corridas de "carrinhos da Matchbox", de os "artilharmos" todos para emitarem os carros das corridas a sério, os Lotus Europa e dos Capri 3000, conduzidos pelo Nicha Cabral, peixinho e outros.
Lembro-me de sermos da UNITA, fazermos peditórios de rua, de aprendermos a marchar, a dizer "kwacha" e a cantar o "mu tua xilaieto".

Lembro-me de pegarmos nos brinquedos quando os tiros começavam, de ficarmos dias escondidos na cave, com tiros e "bazucadas" por todo o lado. Lembro-me dos vizinhos Salgado, e do Maninho o amiguinho do outro lado. Lembro-me do motocross nas traseiras, e tantas coisas mais.

O Lino veio embora primeiro, nós ainda ficámos mais uns meses e foi muito feio. Nessa altura vi lojas arrombadas, saqueadas, gente morta na rua, tudo destruído como se nada daquilo fizesse falta a quem ficava. Quem podia beneficiar do que era deixado para trás destruía, desprezava, matava.
Depois daqui fugimos para Nova Lisboa. Nunca mais soube de ninguém.
O Lino Marmeleiro, trouxe-me isto tudo de novo. Só por isso já valeu a pena aderir ao "facebook".